Antiga toca de Kadafi em Trípoli vira feira livre

'Qualquer lugar onde você consiga ganhar dinheiro é um bom lugar', diz Abdu Salam al-Harashi

Até cinco meses atrás, qualquer um que vagasse diante do complexo de Bab al-Aziziya, ainda mais em busca de um colchão, iria certamente para trás das grades. O território outrora proibido, antes domínio particular do Irmão Líder, agora está tomado por creme dental e creme hidratante, loção pós-barba, sapatos, ovelhas e cães, pombos, desentupidores de sanitário e bombas de bicicleta.

Bab al-Aziziya, que antes era o extenso e secreto complexo de Muamar Kadafi na capital, foi saqueado e entregue ao povo em grande estilo. Kadafi foi assassinado em outubro, mas sua derrota é promulgada novamente todos os dias por meio das milhares de vitórias das pessoas que se utilizam do local que constituía o centro de seu poder. Cheio de pilhas bagunçadas de concreto quebrado, barras de ferro e barro, o espaço agora dá testemunho do que é o poder após um processo de humilhação.

O espaço, antes tão simbólico, virou o pano de fundo de um mercado que acontece às sextas-feiras, com vendedores e compradores igualmente indiferentes à história sombria dos arredores. Todos os dias, famílias passeiam pelos destroços ainda enfumaçados com um alegria tranquila. No mesmo lugar onde Kadafi costumava receber líderes estrangeiros, fazer discursos belicosos transmitidos pela televisão ou simplesmente desfrutar de sua piscina, hoje crianças pequenas, armadas com rifles de plástico, fazem traquinagens.

Mães e pais vindos das províncias observam satisfeitos e tranquilos; mesmo aqueles que não apontaram armas contra Kadafi agora podem compensar 40 anos de humilhação. O complexo foi bombardeado várias vezes pela OTAN neste ano, antes de ser tomado por rebeldes em 23 de agosto.


Comentários