E eu que sou de Acari...


De Riccelli Araújo, jornalista e historiador acariense, via Facebook:

Por onde quer que o tempo ou destino me levem eu sempre terei para onde voltar. Nos meus documentos oficiais como cidadão brasileiro, o registro da minha naturalidade não me deixa esquecer nunca de onde vim e quem eu sou. Sou de Acari. Sou acariense. E isso me basta e me credencia a opinar sobre o destino e o futuro da minha cidade.

Um dia precisei deixar minha terra. Como tantos jovens da minha, e de outras gerações, saí para conquistar espaço em outro lugar. E isso é comum em qualquer cidade brasileira sem muitas oportunidades. Mas em Acari, nos últimos anos, se tornou demasiado. O sistema político que domina e administra o município, numa sequência de sucessões vitoriosas, deixou ou nunca sequer, externou preocupação com esse "êxodo" para além das cordilheiras. Ora! Devem pensar assim: quem quer, fica. Quem não quer, vai embora.

Pois bem! Acompanho pelas redes sociais e por contato diário com amigos que permaneceram na cidade, informações sobre o momento político que se vive. E o que percebo claramente, é que o tempo demasiado estático, de dominação quase que feudal não vai resistir ao desejo de mudança, de movimento e de vida que segue...

É admirável o desejo de mudança presente em uma nova geração que acredita na figura de um homem comum. Um cidadão que nasceu e vive até hoje no mesmo lugar e que pela facilidade da vida, tem o mesmo ofício dos pais. Vive do comércio e assume com orgulho o adjetivo de "bodegueiro", sem nenhuma conotação pejorativa dos que se utilizam do título de "doutor" para diminuir o ofício que garante o sustento de uma família.

Emociona o envolvimento de uma geração que vi nascer sonhando com um Acari diferente. Com um tempo em que as oportunidades possam acontecer e que ninguém precise deixar de vez a família, os amigos, os sonhos para crescer em outro lugar. Um tempo que há de chegar e garantir o diálogo, as opiniões e a liberdade de expressão. Revigora a força que vejo na minha sobrinha Nara Luiza Medeiros de lutar para que tudo isso aconteça e acreditar que isso é possível.

Não se pode conceber mais nenhum tipo de pressão, medo ou perseguição, quando se discorda da postura de quem foi eleito e escolhido para administrar o destino de uma coletividade. É esse tempo de igualdade dessa geração que tem as redes sociais como principal arma deseja. É esse tempo que eu, que precisei deixar minha terra, me distanciar de pessoas importantes para conquistar meu lugar na vida, me deixa confiante em saber que ele pode acontecer. Mas para isso, é preciso que você também se desprenda de qualquer tipo de medo que por ventura ainda habita o coração.

Decidi escrever tudo isso, porque durante anos, minha família acreditou nas sucessivas gestões que estiveram à frente da Prefeitura Municipal de Acari. E até eu, que sempre fui um pouco rebelde quando se tratava de ideologia política partidária, cheguei a acreditar. Mas ainda bem, que os tempos são outros.

Vivemos um tempo de profecias. A juventude de Acari deposita nesse momento esperança em um profeta do povo. Um Isaías como o do Antigo Testamento. Que "denunciava o comportamento de ricos e latifundiários, dos que vivem em grandes festas custeadas pelo trabalho dos pobres, dos que exploram o povo negando-lhe a justiça e dos que se fazem grandes e importantes." Chegou o tempo que “não se deve favor” de quem é remunerado para exercer uma profissão.

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